terça-feira, 22 de outubro de 2013

Decisões e Consequências

O pensamento é como pássaro independente, fora da gaiola. Voa para onde quer. Quando parece que nossos pensares estão estacionados ao norte, pega carona no Minuano e aparece pelo sul. Ventos do pensamento  trazem ou varrem lembranças. Nosso pensamento faz em nossa vida o que faz a lua com as marés. Mas mudança das marés, podemos prever. As danças do pensar não.

Podemos metaforizar nossos pensamentos em um magnífico cavalo encilhado: O mais importante é saber por quem e para onde está sendo guiado. Porque, por muitas vezes, apenas somos conduzidos ou arrastados por inteligências que não nós, ao sabor dos ventos e tempestades.  Sem perceber.
E pensar que somos nós os anfitriões de nossas desditas, quando alimentamos o ódio, a inveja, a autopiedade. A invigilância sobre nossas emoções e vontades. Satisfação e prazer usufruídos, sem aceitar que somos conduzidos, ou compreender nossa própria influência naqueles que chamamos de “obsessores”.
É racional estabelecer a correspondência entre nossas ações, vibrações e a qualidade espiritual dos seres que nos cercam, das formas-pensamento que emitimos. É logica a influência desta energia em nossos desejos e necessidades, no destino que construímos para nós mesmos, e das consequências de nossas escolhas.
Pensar cria. Desejar cega, tentar impor nossos desejos sobre nossa razão escraviza. Tanto de nossas dores são nascidas de nossos pedidos desesperados ao mundo espiritual, pelas cenas que insistentemente plasmamos no éter... E mesmo quando não vigiamos nossas construções mentais e por isto sofremos, custamos muito ou rejeitamos a parcela de responsabilidade que nos cabe.
Absorvemos influências não só de espíritos ou elementais. Absorvemos o ódio que nos é desejado sempre que tentamos retribuí-lo. Absorvemos muito mais a raiva, o ódio e tudo o que desejarmos ao outro. Estes rancores todos criam sintonia perfeita quando recíprocos. Quando não guarnecemos nossas mentes com amor, fé e alegria, criamos as condições para atrair hospedeiros afins. Nosso períspirito é constituído pela matéria mental gerada por nossos sentimentos.
A incapacidade de modificarmos nossas emissões de energia pode ser vencida, e quanto mais demorada nossa percepção desta condição, mais árdua e demorada será. Costumamos ignorar sintomas mais tênues da necessidade de abandonar velhos hábitos, posturas, vícios, sentimentos. Descontentamento, com atos ou fatos que antes nos passavam despercebidos. A sensibilidade com a dor alheia, o desejo de auxiliar, de construir. A vontade que surge de rezar, a lembrança da espiritualidade. O cansaço e desânimo com mesmices (antes imprescindíveis e exaltadas), que já não tem mais tanta graça, perdem a importância ou mostram-se fúteis, inadequadas e constrangedoras.
Certas reflexões antes incomuns, capazes de explicar coisas que antes ignorávamos. Abandono, miséria, guerra, tráfico de armas, pessoas e drogas são notadas, e provocam uma indignação diferente, certo desencanto com nossa insensibilidade anterior. Ou nos sentimos vazios, abandonados e sem rumo, sinal evidente que algo em nós mudou, deixou de ser, mas ainda não percebemos o que virá a seguir. Prazeres antigos, ódios passados já não são constantes. É o momento da construção do novo ser, é a reforma interior que chega desajeitada, impactando e assustando. Espaços espirituais não permanecem vazios, e se não os preenchermos logo com luz, a sombra o fará. O medo da mudança é o medo de admitir erros, é a constatação de nossas incapacidades. A transição entre as duas posturas, a antiga, cômoda e previsível, mesmo que dolorosa e destrutiva, e a consciência que chega com percepções que julgamos não merecer. Qualquer certeza substituída tem que ser testada, estudada, repetida. A superficialidade da mudança de conduta sem convicção é efêmera. Como a semente na terra, precisamos romper nossa casca, deixar que nossa polpa seja apodrecida para nos servir de alimento. Assim é que nosso orgulho poderá alimentar nossa humildade, nossa frieza se transformar em afeto e nosso ódio em amor.
São passos delicados, dolorosos e complicados.
Raras são as transformações repentinas, instantâneas, aquelas tão surpreendentes que lembram milagres e são duradouras. A compreensão não é automática a partir de rituais, nem arrependimentos súbitos são consistentes sem uma profunda e verdadeira autocrítica.
Transferir a responsabilidade de nossos atos para obsessores, pragas, inimigos e adversidades é desculpar-se pelos insucessos e desvios. Se não temos responsabilidades, se não conseguimos superar nossos equívocos, podemos recair nas antigas condutas.
Os espíritos sofredores e infelizes que acompanham nossos desatinos não estariam conosco se não tivéssemos permitido. Raras são as obsessões de cunho atemporal, represálias, perseguições séculos afora. Em sua maioria, somos nós quem os arrebanhamos pelas ruas, bares, locais onde os instintos mais animalizados são saciados e esta é a tônica dominante da energia emanada e absorvida. Compartilhada, melhor dizendo. E, se compartilhamos equívocos, somos nós que possuímos o vaso físico capaz de promover sensações e sentimentos. Portanto, precisamos transformar nosso inicial perdão por piedade, tolerância, afeto. Nossa renovação é comum, simultânea. A luz, quando espanta a escuridão, espanta junto quem nela deseja permanência. Mas se estes espíritos sentirem, de nossa parte, qualquer réstea de afeto, mesmo que lentamente, passarão a tolerar a luz, depois a conviver com ela.
Assim descrito, pode parecer fácil, como se houvesse um passo-a-passo capaz de contornar nossos problemas, vícios e equívocos. Engano! Esta luta íntima pode durar toda uma vida, e assim tornar-se cada vez mais árdua, como o remédio que, de tanto ingerido, já pouco ou nenhum efeito traz.
E como na farmácia, pode ser necessário que cada dose seja mais forte. Os remédios para o espírito são muitos, pode ser o trabalho, as necessidades materiais, a perda da saúde, de um ente querido. A dor, em qualquer uma de suas expressões.
Podemos entender a dor como providência essencial para impedir novos e maiores débitos, lutando contra as adversidades com toda nossa fé, aceitando, porém, os desígnios Superiores. Ou podemos nos afundar ainda mais na revolta e na indolência, tornando-nos queixosos, infelizes e sombrios.
Temos nossa existência inteira para evoluir, e seremos rodeados de espíritos propensos ao progresso harmônico ou, como alunos desleixados, deixar para repetir as lições ignoradas em outra existência, quando e se recebermos outra vez a dádiva da reencarnação, carregando conosco tudo o que produzimos com nossos pensamentos e sentimentos, acompanhados pelos irmãos por quem nos deixamos corromper enquanto os corrompíamos também.


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