O pensamento é como
pássaro independente, fora da gaiola. Voa para onde quer. Quando parece que
nossos pensares estão estacionados ao norte, pega carona no Minuano e aparece
pelo sul. Ventos do pensamento trazem ou
varrem lembranças. Nosso pensamento faz em nossa vida o que faz a lua com as
marés. Mas mudança das marés, podemos prever. As danças do pensar não.
Podemos metaforizar
nossos pensamentos em um magnífico cavalo encilhado: O mais importante é saber
por quem e para onde está sendo guiado. Porque, por muitas vezes, apenas somos
conduzidos ou arrastados por inteligências que não nós, ao sabor dos ventos e
tempestades. Sem perceber.
E pensar que somos
nós os anfitriões de nossas desditas, quando alimentamos o ódio, a inveja, a
autopiedade. A invigilância sobre nossas emoções e vontades. Satisfação e
prazer usufruídos, sem aceitar que somos conduzidos, ou compreender nossa
própria influência naqueles que chamamos de “obsessores”.
É racional
estabelecer a correspondência entre nossas ações, vibrações e a qualidade
espiritual dos seres que nos cercam, das formas-pensamento que emitimos. É
logica a influência desta energia em nossos desejos e necessidades, no destino
que construímos para nós mesmos, e das consequências de nossas escolhas.
Pensar cria. Desejar
cega, tentar impor nossos desejos sobre nossa razão escraviza. Tanto de nossas
dores são nascidas de nossos pedidos desesperados ao mundo espiritual, pelas
cenas que insistentemente plasmamos no éter... E mesmo quando não vigiamos
nossas construções mentais e por isto sofremos, custamos muito ou rejeitamos a
parcela de responsabilidade que nos cabe.
Absorvemos
influências não só de espíritos ou elementais. Absorvemos o ódio que nos é
desejado sempre que tentamos retribuí-lo. Absorvemos muito mais a raiva, o ódio
e tudo o que desejarmos ao outro. Estes rancores todos criam sintonia perfeita
quando recíprocos. Quando não guarnecemos nossas mentes com amor, fé e alegria,
criamos as condições para atrair hospedeiros afins. Nosso períspirito é
constituído pela matéria mental gerada por nossos sentimentos.
A incapacidade de
modificarmos nossas emissões de energia pode ser vencida, e quanto mais
demorada nossa percepção desta condição, mais árdua e demorada será. Costumamos
ignorar sintomas mais tênues da necessidade de abandonar velhos hábitos,
posturas, vícios, sentimentos. Descontentamento, com atos ou fatos que antes
nos passavam despercebidos. A sensibilidade com a dor alheia, o desejo de
auxiliar, de construir. A vontade que surge de rezar, a lembrança da
espiritualidade. O cansaço e desânimo com mesmices (antes imprescindíveis e
exaltadas), que já não tem mais tanta graça, perdem a importância ou mostram-se
fúteis, inadequadas e constrangedoras.
Certas reflexões
antes incomuns, capazes de explicar coisas que antes ignorávamos. Abandono,
miséria, guerra, tráfico de armas, pessoas e drogas são notadas, e provocam uma
indignação diferente, certo desencanto com nossa insensibilidade anterior. Ou
nos sentimos vazios, abandonados e sem rumo, sinal evidente que algo em nós
mudou, deixou de ser, mas ainda não percebemos o que virá a seguir. Prazeres
antigos, ódios passados já não são constantes. É o momento da construção do
novo ser, é a reforma interior que chega desajeitada, impactando e assustando. Espaços
espirituais não permanecem vazios, e se não os preenchermos logo com luz, a
sombra o fará. O medo da mudança é o medo de admitir erros, é a constatação de
nossas incapacidades. A transição entre as duas posturas, a antiga, cômoda e
previsível, mesmo que dolorosa e destrutiva, e a consciência que chega com
percepções que julgamos não merecer. Qualquer certeza substituída tem que ser
testada, estudada, repetida. A superficialidade da mudança de conduta sem
convicção é efêmera. Como a semente na terra, precisamos romper nossa casca,
deixar que nossa polpa seja apodrecida para nos servir de alimento. Assim é que
nosso orgulho poderá alimentar nossa humildade, nossa frieza se transformar em
afeto e nosso ódio em amor.
São passos delicados,
dolorosos e complicados.
Raras são as
transformações repentinas, instantâneas, aquelas tão surpreendentes que lembram
milagres e são duradouras. A compreensão não é automática a partir de rituais,
nem arrependimentos súbitos são consistentes sem uma profunda e verdadeira
autocrítica.
Transferir a
responsabilidade de nossos atos para obsessores, pragas, inimigos e
adversidades é desculpar-se pelos insucessos e desvios. Se não temos
responsabilidades, se não conseguimos superar nossos equívocos, podemos recair
nas antigas condutas.
Os espíritos
sofredores e infelizes que acompanham nossos desatinos não estariam conosco se
não tivéssemos permitido. Raras são as obsessões de cunho atemporal,
represálias, perseguições séculos afora. Em sua maioria, somos nós quem os
arrebanhamos pelas ruas, bares, locais onde os instintos mais animalizados são
saciados e esta é a tônica dominante da energia emanada e absorvida.
Compartilhada, melhor dizendo. E, se compartilhamos equívocos, somos nós que
possuímos o vaso físico capaz de promover sensações e sentimentos. Portanto,
precisamos transformar nosso inicial perdão por piedade, tolerância, afeto.
Nossa renovação é comum, simultânea. A luz, quando espanta a escuridão, espanta
junto quem nela deseja permanência. Mas se estes espíritos sentirem, de nossa
parte, qualquer réstea de afeto, mesmo que lentamente, passarão a tolerar a
luz, depois a conviver com ela.
Assim descrito, pode
parecer fácil, como se houvesse um passo-a-passo capaz de contornar nossos
problemas, vícios e equívocos. Engano! Esta luta íntima pode durar toda uma
vida, e assim tornar-se cada vez mais árdua, como o remédio que, de tanto
ingerido, já pouco ou nenhum efeito traz.
E como na farmácia,
pode ser necessário que cada dose seja mais forte. Os remédios para o espírito
são muitos, pode ser o trabalho, as necessidades materiais, a perda da saúde,
de um ente querido. A dor, em qualquer uma de suas expressões.
Podemos entender a
dor como providência essencial para impedir novos e maiores débitos, lutando
contra as adversidades com toda nossa fé, aceitando, porém, os desígnios
Superiores. Ou podemos nos afundar ainda mais na revolta e na indolência, tornando-nos
queixosos, infelizes e sombrios.
Temos nossa
existência inteira para evoluir, e seremos rodeados de espíritos propensos ao
progresso harmônico ou, como alunos desleixados, deixar para repetir as lições
ignoradas em outra existência, quando e se recebermos outra vez a dádiva da
reencarnação, carregando conosco tudo o que produzimos com nossos pensamentos e
sentimentos, acompanhados pelos irmãos por quem nos deixamos corromper enquanto
os corrompíamos também.
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